Antes de mais nada, é bom começar afirmando: não, o Espiritismo não condena o divórcio. Você pode estar pensando: ''mas condenar é uma palavra muito forte. Talvez o Espiritismo não encoraje o divórcio''. Também não é por aí.
Porém... muitos acham que é justamente isso: o Espiritismo não encoraja o divórcio, porque as relações são planejadas pela espiritualidade, porque devemos ficar resgatando erros com tal e tal pessoa e blá-blá...
Não se ofenda, mas para mim é blá-blá. Óbvio que muitas relações são combinadas antes da reencarnação, óbvio que os amigos espirituais e a vida nos encaminham pessoas que devemos nos ajustar perante a Lei de Ação e Reação, que vão nos oferecer oportunidades de aprendizado, experiências salutares ao progresso do espírito. Isso é inegável.
Mas outra coisa, muito diferente, é querer usar esse discurso para perpetuar relações conjugais. Primeiramente, porque pessoas para nos ajustarmos é que não faltam. Segundo, porque quem gosta de sofrer é masoquista, não espírita. É temário e ultrajante querer justificar com a Doutrina Espírita um casamento malsucedido, dizendo que deve ''encaminhar o fulano'', deve ''resgatar com o fulano'', ''assim foi decidido por Deus'', ''assim foi decidido por meus guias espirituais''.
Vamos aos fatos, portanto. Allan Kardec perguntou aos Espíritos da Codificação sobre a indissolubilidade do casamento, ou seja, a impossibilidade do divórcio - isso no século XIX, quando era algo muito mal visto. A resposta: "É uma lei humana muito contrária à da Natureza. Mas os homens podem modificar suas leis; só as da Natureza são imutáveis.'' (Questão 697.)
O Codificador da Doutrina Espírita também se dedica à temática do divórcio no livro O Evangelho Segundo o Espiritismo, no capítulo 22, que está transcrito abaixo, com reduções (leia completo aqui).
''O divórcio é uma lei humana, cuja finalidade é separar legalmente o que já estava separado de fato. Não é contrário à lei de Deus, pois só reforma o que os homens fizeram, e só tem aplicação nos casos em que a lei divina não foi considerada.
Mas nem mesmo Jesus consagrou a indissolubilidade absoluta do casamento. Não disse ele: “Moisés, pela dureza dos vossos corações, vos permitiu repudiar as vossas mulheres”? Isto significa que, desde os tempos de Moisés, não sendo a mútua afeição o motivo único do casamento, a separação podia tornar-se necessária. Mas acrescenta: “no princípio não foi assim”, ou seja, na origem da Humanidade, quando os homens ainda não estavam pervertidos pelo egoísmo e orgulho, e viviam segundo a lei de Deus, as uniões, fundadas na simpatia recíproca e não sobre a vaidade ou a ambição, não davam motivo ao repúdio.
E vai ainda mais longe, pois especifica o caso em que o repúdio pode verificar-se: o de adultério. Ora, o adultério não existe onde reina uma afeição recíproca sincera. É verdade que proíbe ao homem desposar a mulher repudiada, mas é necessário considerar os costumes e o caráter dos homens do seu tempo. A lei mosaica prescrevia a lapidação para esses casos. Querendo abolir um costume bárbaro, precisava, naturalmente, de estabelecer uma penalidade, que encontrou na ignomínia decorrente da proibição de novo casamento. Era de qualquer maneira, uma lei civil substituída por outra lei civil, que, por sua vez, como todas as leis dessa natureza, devia sofrer a prova do tempo.''
Em outras palavras, o divórcio é um instrumento para garantir que não fique unido aquilo que de fato sempre esteve separado. Quando a humanidade estiver mais regenerada, e as pessoas buscarem efetivar suas relações com base no respeito e na afeição sincera e recíproca, como disse Kardec, aí sim este, o divórcio, será cada vez menos necessário à sociedade civil.
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