13 de dez. de 2015

Ciência e Espiritualidade: contexto histórico, a união e a ciência espiritual


Ciência e Espiritualidade: Um breve contexto histórico

Pelos registros históricos nos disponibilizados, os intelectuais da Antiguidade não se preocupavam exacerbadamente em separar o científico do espiritual – ou talvez seja possível afirmar que isso definitivamente não era uma preocupação pautável para eles. Pitágoras, o matemático criador da primeira universidade do mundo, ensinava tanto a geometria quanto a metempsicose (reencarnação) para seus ‘‘alunos’’.

É com o advento do Iluminismo (‘‘ movimento intelectual do século XVIII, caracterizado pela centralidade da ciência e da racionalidade crítica no questionamento filosófico, o que implica recusa a todas as formas de dogmatismo’’) que a razão, elemento crucial que já vinha sendo despertada na mentalidade humana desde o Renascimento, com o fim da ‘’Idade das Trevas’’ (Idade Média), ganha forças incomparáveis em nossa história antropológica, alçando no cenário mundial mudanças bruscas.

A razão incentivada pelo Iluminismo era materialista (sem aqui conotar qualquer significado depreciativo do termo), isto é, investigava e se baseava no material, na matéria palpável ou pelo menos experimentável (exemplo: gases).

Portanto, após séculos de superstições e conhecimentos absolutamente absurdos e até mesmo prejudiciais incentivados durante a Idade Média, o homem passa a vislumbrar um horizonte que preza o sensato, o racional – e, sobretudo, o experimentável. Aquilo que não pode ser provado ou compreendido racionalmente, de acordo com os princípios científicos, é posto em dúvida.

É desta forma que começa uma discrepância no campo conceitual entre ciência e espiritualidade – pois o científico pertence àquilo que pode ser experimentado, comprovado com hipóteses ou observações, enfim, ao universo material. O espiritual, por sua vez, ocuparia majoritariamente os fenômenos impossíveis, inexplicáveis, nem sempre dignos de credibilidade e, muito menos, comprováveis, passíveis de serem estudados pela razão científica.  Certamente, sempre houve exceções, mas aqui estamos falando genericamente. Estudiosos ocultistas que relacionavam habilmente a ciência tradicional ao espiritual se fizeram presentes em todos os séculos de ênfase materialista.

O contexto mencionado no parágrafo anterior é, sobretudo, ainda o engendrado pelo Iluminismo, ou seja, nos primeiros séculos da segunda metade do segundo milênio (mesmo que possua significâncias válidas ainda hodiernamente).

No século XIX, a ciência materialista vivia uma espécie de apogeu – o positivismo de Auguste Comte reforçava os conceitos apresentados anteriormente sobre materialismo. A ciência, em tal século, prezava enfaticamente a diferença entre o científico e o espiritual. De um mundo embebido de superstições e absurdos medievais, passamos a uma sociedade que não sabia lidar com fenômenos impossíveis de encaixar sob a ótica do método científico.
Digno de nota ressaltar que neste mesmo século (XIX) surgiram duas importantes correntes filosóficas que abordavam fortemente um ‘‘contra materialismo’’: A Doutrina Secreta (1888), de Helena Petrovna Blavatsky e, antes disso, a Doutrina dos Espíritos ou Espiritismo (1857), de Allan Kardec.
A Doutrina Secreta, por mais que tenha sido uma considerável (e seleta) expressão de abalo aos valores materialistas prezados pelo contexto da sociedade em que teve sua gênese, não flertou com o campo científico convencional, ao contrário do Espiritismo, que, através de seu Codificador, induziu a uma relativa reconciliação entre Ciência e Religião, entre o científico e o espiritual.

O Espiritismo ofereceu no século XIX uma concepção filosófica e religiosa que recomendava e confiava na Ciência, na contramão de praticamente todas as outras filosofias religiosas, que persistiam em relutar contra os inúmeros avanços obtidos através da Ciência.

No próximo século (XX), físicos como Albert Einstein, Werner Heisenberg e Erwin Schrödinger revolucionam o panorama científico com estudos e contribuições que alteram as pretensões arguidas anteriormente no campo científico: o que era estável e absoluto torna-se instável e relativo. O Universo de Newton comparado a um relógio cede lugar a um Universo incomparavelmente mais complexo e menos perfeito (usualmente tratando-se).

A ciência nunca mais foi vista da mesma maneira maquinar de outrora, possibilitando que cientistas e filósofos trabalhassem independentemente, unindo seus conhecimentos e valores espirituais aos científicos – por exemplo: Fritjof Capra, ainda vivo em nossa dimensão física.

Hoje, contextualmente falando, Ciência e Espiritualidade são assuntos unidos para muitos pensadores, filósofos e até cientistas, que buscam compreender qual a relação entre o tangível e o intangível. Ressalta-se, por exemplo, que universidades do mundo inteiro já estudaram e estudam fenômenos tipicamente considerados como espirituais ou religiosos, tal como o passe magnético cedido em centros espíritas ou a eficiência neurológica da meditação.

Não obstante, prevalece fortemente a divisão entre ‘‘ciência convencional’’ (que seria a ciência propriamente dita, conhecida por todos nós, ligada ao materialismo) e a ciência espiritual, a espiritualidade e as próprias religiões.

Em outras palavras, vivemos em uma época em que há tanto a união do espírito com a matéria no que diz respeito ao cognitivo, ao epistemológico, quanto também continua havendo uma separação latente, pois o espírito e o espiritual não são reconhecidos oficialmente nos principais centros e convenções científicas do globo. Contudo, estão sendo cada vez mais estudados e não seria uma conjectura fantasiosa prever que em pouco tempo a ciência convencional dará as mãos ao espiritual.

Ciência e Espiritualidade: De qual forma são unidas

Vimos anteriormente que a ciência estuda aquilo que é passível de ser experimentado, observado, teorizado segundo um rol de critérios taxativamente racionais. Já o espiritual raramente impulsiona essas considerações. Portanto, como podemos visualizar uma união entre ambos?

Allan Kardec nos diz:

     “A ciência e a religião não puderam se entender até agora porque, encarando cada qual as coisas de acordo com seu ponto de vista exclusivo,  repeliam-se mutuamente. Faltava-lhes algo que preenchesse o vazio que as separava, um traço de união que as ligasse; esse traço de união é o conhecimento das leis que regem o mundo invisível e suas  relações  com o mundo visível, leis tão imutáveis quanto as que regem o movimento dos astros e a existência dos seres. Uma vez constatadas essas leis pela experiência, uma luz nova brilhará: a fé é dirigida à razão, a razão não encontrou nada de ilógico na fé, e o materialismo foi vencido.’’ (O Evangelho Segundo o Espiritismo.)

Já o físico e pesquisador Patrick Drouot relata o seguinte, em entrevista ao espiritualista brasileiro Wagner Borges:

‘‘Por volta dos anos de 1983-84, comecei a ter experiências que não pertencem ao mundo clássico, e a pergunta era sempre a mesma: será que podemos explicar esses fenômenos com o avanço da física quântica? E, respeitosamente, pelo conjunto de todas essas tradições, eu acredito que todos os sábios, todos os xamãs, todos os santos que existiram desde o inicio, eram físicos antes mesmo que a ciência existisse, porque eles explicavam o que acontecia além da realidade ordinária, comum, exatamente o que o avanço da física quântica tenta fazer atualmente.’’

O entendimento científico de que massa e energia são convertíveis (massa é energia e energia é massa, segundo a famosa equação de Einstein) é um primeiro ponto para se entender como a ciência é atualmente interligada ao espiritual.

Outro ponto destacável é a compreensão quântica da vida. O mundo atômico e subatômico oferecem à ciência convencional a ideia de que tudo que existe é composto por partículas extremamente complexas e instáveis, de tamanho inimaginável para a nossa limitada mente. O que isso quer dizer? Ora, atrelando à compreensão que equipara matéria a energia, o que entendemos como material é uma forma vibracional da estrutura atômica.

Explicando melhor: o seu corpo físico, por exemplo, é composto de infinitas partículas atômicas que vibram energeticamente na nossa dimensão. E como o átomo é em sua maior parte vazio (sim! Vazio: sem subpartículas conhecidas), poderiam existir muitas outras partículas vibrando energeticamente em outras dimensões – essas dimensões, entretanto, não são facilmente acessadas por nós cognitivamente.

Concluindo: energia e matéria se imiscuem de tal maneira que espírito e matéria têm os seus véus dissipados pouco a pouco pela ciência convencional. A energia dispensada em um passe é passível de ser observada cientificamente, mesmo que com muitas limitações, por exemplo.

A ciência espiritual ou a espiritualidade científica

Modernamente, considera-se amplamente a necessidade do estudo científico do campo espiritual – estudar criteriosamente o que se entende por: corpo espiritual, corpo mental, chacras, cordão de prata, egrégora, ectoplasma, e por aí vai, entre tantos itens do vocabulário tipicamente espiritual. 

É um olhar que compreende a completude entre os saberes, ou uma salutar interdependência. Por conseguinte, o conhecimento acerca do espiritual ganharia força e credibilidade. Já vimos anteriormente que a ciência atual abre brechas para o estudo do que antes era considerado sobrenatural ou supersticioso.

Mesmo que com muitas limitações cabíveis e esperáveis, ciência e espiritualidade são dois campos historicamente separados, unidos e interligados de uma forma que mudou de acordo com o contexto, os preconceitos e os conhecimentos de cada época.


Logicamente, a ciência convencional encontra-se em um ponto de impasse em diversos assuntos que não mais correspondem à ânsia e o progresso do saber. São limitações do materialismo. Já a espiritualidade urge sair cada vez mais da estagnação do saber, pois se energia e matéria se equivalem, e tudo que nos rodeia é energia, essa energia pode e deve ser estudada e analisada para nos render avanços em todos os aspectos.

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