Ciência e Espiritualidade: Um breve
contexto histórico
Pelos registros históricos nos disponibilizados, os
intelectuais da Antiguidade não se preocupavam exacerbadamente em separar o
científico do espiritual – ou talvez seja possível afirmar que isso definitivamente
não era uma preocupação pautável para eles. Pitágoras, o matemático criador da
primeira universidade do mundo, ensinava tanto a geometria quanto a
metempsicose (reencarnação) para seus ‘‘alunos’’.
É com o advento do Iluminismo (‘‘ movimento intelectual do século XVIII, caracterizado pela
centralidade da ciência e da racionalidade crítica no questionamento
filosófico, o que implica recusa a todas as formas de dogmatismo’’) que a
razão, elemento crucial que já vinha sendo despertada na mentalidade humana
desde o Renascimento, com o fim da ‘’Idade das Trevas’’ (Idade Média), ganha
forças incomparáveis em nossa história antropológica, alçando no cenário
mundial mudanças bruscas.
A razão incentivada pelo Iluminismo era materialista (sem
aqui conotar qualquer significado depreciativo do termo), isto é, investigava e
se baseava no material, na matéria palpável ou pelo menos experimentável
(exemplo: gases).
Portanto, após séculos de superstições e conhecimentos
absolutamente absurdos e até mesmo prejudiciais incentivados durante a Idade
Média, o homem passa a vislumbrar um horizonte que preza o sensato, o racional
– e, sobretudo, o experimentável. Aquilo que não pode ser provado ou
compreendido racionalmente, de acordo com os princípios científicos, é posto em
dúvida.
É desta forma que começa uma discrepância no campo
conceitual entre ciência e espiritualidade – pois o científico pertence àquilo
que pode ser experimentado, comprovado com hipóteses ou observações, enfim, ao
universo material. O espiritual, por sua vez, ocuparia majoritariamente os
fenômenos impossíveis, inexplicáveis, nem sempre dignos de credibilidade e,
muito menos, comprováveis, passíveis de serem estudados pela razão científica. Certamente, sempre houve exceções, mas aqui
estamos falando genericamente. Estudiosos ocultistas que relacionavam
habilmente a ciência tradicional ao espiritual se fizeram presentes em todos os
séculos de ênfase materialista.
O contexto mencionado no parágrafo anterior é, sobretudo,
ainda o engendrado pelo Iluminismo, ou seja, nos primeiros séculos da segunda
metade do segundo milênio (mesmo que possua significâncias válidas ainda
hodiernamente).
No século XIX, a ciência materialista vivia uma espécie
de apogeu – o positivismo de Auguste Comte reforçava os conceitos apresentados
anteriormente sobre materialismo. A ciência, em tal século, prezava
enfaticamente a diferença entre o científico e o espiritual. De um mundo
embebido de superstições e absurdos medievais, passamos a uma sociedade que não
sabia lidar com fenômenos impossíveis de encaixar sob a ótica do método
científico.
Digno de nota ressaltar que neste mesmo século (XIX)
surgiram duas importantes correntes filosóficas que abordavam fortemente um
‘‘contra materialismo’’: A Doutrina
Secreta (1888), de Helena Petrovna Blavatsky e, antes disso, a Doutrina dos
Espíritos ou Espiritismo (1857), de
Allan Kardec.
A Doutrina Secreta, por mais que tenha sido uma considerável
(e seleta) expressão de abalo aos valores materialistas prezados pelo contexto
da sociedade em que teve sua gênese, não flertou com o campo científico
convencional, ao contrário do Espiritismo, que, através de seu Codificador,
induziu a uma relativa reconciliação entre Ciência e Religião, entre o
científico e o espiritual.
O Espiritismo ofereceu no século XIX uma concepção
filosófica e religiosa que recomendava e confiava na Ciência, na contramão de
praticamente todas as outras filosofias religiosas, que persistiam em relutar
contra os inúmeros avanços obtidos através da Ciência.
No próximo século (XX), físicos como Albert Einstein, Werner
Heisenberg e Erwin Schrödinger revolucionam o panorama científico com estudos e
contribuições que alteram as pretensões arguidas anteriormente no campo
científico: o que era estável e absoluto torna-se instável e relativo. O
Universo de Newton comparado a um relógio cede lugar a um Universo
incomparavelmente mais complexo e menos perfeito (usualmente tratando-se).
A ciência nunca mais foi vista da mesma maneira maquinar de
outrora, possibilitando que cientistas e filósofos trabalhassem
independentemente, unindo seus conhecimentos e valores espirituais aos
científicos – por exemplo: Fritjof Capra, ainda vivo em nossa dimensão física.
Hoje, contextualmente falando, Ciência e Espiritualidade
são assuntos unidos para muitos pensadores, filósofos e até cientistas, que
buscam compreender qual a relação entre o tangível e o intangível. Ressalta-se,
por exemplo, que universidades do mundo inteiro já estudaram e estudam
fenômenos tipicamente considerados como espirituais ou religiosos, tal como o
passe magnético cedido em centros espíritas ou a eficiência neurológica da
meditação.
Não obstante, prevalece fortemente a divisão entre
‘‘ciência convencional’’ (que seria a ciência propriamente dita, conhecida por
todos nós, ligada ao materialismo) e a ciência espiritual, a espiritualidade e
as próprias religiões.
Em outras palavras, vivemos em uma época em que há tanto
a união do espírito com a matéria no que diz respeito ao cognitivo, ao
epistemológico, quanto também continua havendo uma separação latente, pois o
espírito e o espiritual não são reconhecidos oficialmente nos principais
centros e convenções científicas do globo. Contudo, estão sendo cada vez mais
estudados e não seria uma conjectura fantasiosa prever que em pouco tempo a
ciência convencional dará as mãos ao espiritual.
Ciência e
Espiritualidade: De qual forma são unidas
Vimos anteriormente que a ciência estuda aquilo que é
passível de ser experimentado, observado, teorizado segundo um rol de critérios
taxativamente racionais. Já o espiritual raramente impulsiona essas
considerações. Portanto, como podemos visualizar uma união entre ambos?
Allan Kardec nos diz:
“A ciência e a religião não puderam se
entender até agora porque, encarando cada qual as coisas de acordo com seu
ponto de vista exclusivo, repeliam-se
mutuamente. Faltava-lhes algo que preenchesse o vazio que as separava, um traço
de união que as ligasse; esse traço de união é o conhecimento das leis que
regem o mundo invisível e suas relações com o mundo visível, leis tão imutáveis
quanto as que regem o movimento dos astros e a existência dos seres. Uma vez
constatadas essas leis pela experiência, uma luz nova brilhará: a fé é dirigida
à razão, a razão não encontrou nada de ilógico na fé, e o materialismo foi
vencido.’’ (O Evangelho Segundo o
Espiritismo.)
Já o físico e pesquisador Patrick Drouot relata o
seguinte, em entrevista ao espiritualista brasileiro Wagner Borges:
‘‘Por volta dos anos
de 1983-84, comecei a ter experiências que não pertencem ao mundo clássico, e a
pergunta era sempre a mesma: será que podemos explicar esses fenômenos com o
avanço da física quântica? E, respeitosamente, pelo conjunto de todas essas tradições,
eu acredito que todos os sábios, todos os xamãs, todos os santos que existiram
desde o inicio, eram físicos antes mesmo que a ciência existisse, porque eles
explicavam o que acontecia além da realidade ordinária, comum, exatamente o que
o avanço da física quântica tenta fazer atualmente.’’
O entendimento científico de que massa e energia são
convertíveis (massa é energia e energia é massa, segundo a famosa equação de
Einstein) é um primeiro ponto para se entender como a ciência é atualmente
interligada ao espiritual.
Outro ponto destacável é a compreensão quântica da vida.
O mundo atômico e subatômico oferecem à ciência convencional a ideia de que
tudo que existe é composto por partículas extremamente complexas e instáveis,
de tamanho inimaginável para a nossa limitada mente. O que isso quer dizer?
Ora, atrelando à compreensão que equipara matéria a energia, o que entendemos
como material é uma forma vibracional da estrutura atômica.
Explicando melhor: o seu corpo físico, por exemplo, é
composto de infinitas partículas atômicas que vibram energeticamente na nossa
dimensão. E como o átomo é em sua maior parte vazio (sim! Vazio: sem
subpartículas conhecidas), poderiam existir muitas outras partículas vibrando
energeticamente em outras dimensões – essas dimensões, entretanto, não são facilmente
acessadas por nós cognitivamente.
Concluindo: energia e matéria se imiscuem de tal maneira
que espírito e matéria têm os seus véus dissipados pouco a pouco pela ciência
convencional. A energia dispensada em um passe é passível de ser observada
cientificamente, mesmo que com muitas limitações, por exemplo.
A ciência espiritual
ou a espiritualidade científica
Modernamente, considera-se amplamente a necessidade do
estudo científico do campo espiritual – estudar criteriosamente o que se
entende por: corpo espiritual, corpo mental, chacras, cordão de prata,
egrégora, ectoplasma, e por aí vai, entre tantos itens do vocabulário
tipicamente espiritual.
É um olhar que compreende a completude entre os saberes,
ou uma salutar interdependência. Por conseguinte, o conhecimento acerca do
espiritual ganharia força e credibilidade. Já vimos anteriormente que a ciência
atual abre brechas para o estudo do que antes era considerado sobrenatural ou
supersticioso.
Mesmo que com muitas limitações cabíveis e esperáveis,
ciência e espiritualidade são dois campos historicamente separados, unidos e
interligados de uma forma que mudou de acordo com o contexto, os preconceitos e
os conhecimentos de cada época.
Logicamente, a ciência convencional encontra-se em um
ponto de impasse em diversos assuntos que não mais correspondem à ânsia e o
progresso do saber. São limitações do materialismo. Já a espiritualidade urge
sair cada vez mais da estagnação do saber, pois se energia e matéria se
equivalem, e tudo que nos rodeia é energia, essa energia pode e deve ser
estudada e analisada para nos render avanços em todos os aspectos.
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